Pequeno Barco na Enseada.
Grande Navio na Baia.
Qual caminho seguir?
Embarcações são artefatos ou construções elaboradas com o objetivo de navegar de forma segura permitindo o transporte de pessoas ou bens materiais sobre águas marítimas, fluviais ou lacustres. Esta é a definição de embarcação, comumente encontrada em nossos manuais de navegação e apostilas náuticas. Nesses impressos podemos encontrar diversas formas de diferenciação das embarcações.
Podemos distinguir as embarcações de acordo com o tipo de propulsão que usam: a remo, a vela, a motor. Podemos distingui-las de acordo com o seu material de construção: de madeira, de aço, de materiais compostos. Todas essas formas de distinção são precisas e objetivas, exceto uma: a que trata do tamanho das embarcações.
A princípio parece simples: Navios são as embarcações de grande porte; barcos são as embarcações de pequeno porte. Alguns nomes não deixam dúvidas quanto ao tamanho do navio; ninguém imaginaria um pequeno petroleiro tampouco uma grande jangada. Seria muito difícil você passar um final de semana no navio do seu colega de trabalho, a menos que você seja vice-presidente de uma multinacional. Ou seja, barco é aquilo que as pessoas podem comprar e navio é aquilo que gera emprego pra várias pessoas.
A vivência, no entanto, nos faz experimentar situações em que é impossível classificar as embarcações. Embora se diga que, não existem navios pequenos, alguns rebocadores, submarinos e até cargueiros do início do século são minúsculos perto de certos barcos mais novos, insignificante, perto de certos navios. E então, eles viraram barcos com o tempo? Embora se diga que não existe pequeno navio, não seria aqui o caso? Ou eles são, agora, grandes barcos?
Sabe, creio que o critério que primeiro distingue um navio de um barco não seja exatamente o seu tamanho, mas o nível de responsabilidade que está envolvido na navegação de um e de outro. Se você coloca numa embarcação sua família e seus amigos para fazerem uma viagem até a praia no fim de semana, o nível de responsabilidade envolvido nesta operação não é muito superior ao de uma viagem de carro até o sítio, embora seja mais complexo navegar do que dirigir. Mas se você assume o comando de uma embarcação construída e armada por outra pessoa, na qual trabalham diversos funcionários, e que realiza serviços para clientes transportando coisas sobre a água, você está no comando de um navio, de qualquer que seja o tamanho. Isso envolve muita responsabilidade.
Em segundo lugar, creio que o nível de complexidade da tarefa do comandante cresce, significativamente, de acordo com o aumento da responsabilidade. Um navio é muito maior que um barco, embora às vezes não pareça, pelo fato de alguns navios serem pequenos perto de alguns enormes barcos. Mas um navio possui sistemas complexos de manutenção da vida a bordo, de suas cargas, de suas máquinas. Um barco normalmente se destina a curtos trajetos e mesmo quando preparado para longas viagens, o faz de forma modesta, graças ao limitado número de passageiros que leva. Alguns barcos de transporte deveriam então ter outro nome, porque a tarefa de transportar pessoas, mesmo em barcos pequenos e curtos trajetos, envolve muito mais complexidade do que aquela que se espera na navegação de um barco.
Enfim, em meio a toda essa discussão sobre barcos e navios, me lembrei do haikai (poema tradicional japonês) que li há muito tempo em uma agenda. E percebi que essa distinção entre barcos e navios tem muito a ver com a nossa busca de marinheiros. Ansiamos por embarcar em navios grandes, onde possamos aprender sobre nossas fainas e enfrentar grandes mares, conhecer portos distantes. Quem ama e sonha com o mar, sempre sonha com muito mar, com o mar imenso que guarda o mistério do mar. Aquele que a gente só vê quando só se vê mar. E pra chegar nesse mar, é preciso embarcar em algum importante navio.
Se pararmos pra pensar no poema, veremos que ele parece nos apresentar uma escolha entre o pequeno barco e o grande navio. À primeira vista, podemos pensar: tenho que escolher entre o pequeno barco e o grande navio. Mas é preciso atentar para o fato de que é impossível chegar ao grande navio na baia, sem utilizarmos o pequeno barco na enseada. Portanto, não se trata de escolher entre um e outro, mas em como utilizar o pequeno barco. Você pode utilizá-lo para chegar ao grande navio, ou escolher navegar com ele pelo seu próprio caminho. Mas antes, é claro, você precisa decidir embarcar.
4 comentários:
Não importa o tamanho do barco,o marinheiro não muda só por isso.
Experimente cruzar o atlântico num laser. Ou enfrentar o drake de jangada. O marinheiro que tentar isso provavelmete irá mudar, mudar-se para um outro plano de existência.
Cassio, que falta que você faz!
nada mal!
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